quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Guarda-chuva

Neste dia de são judas, gostaria de ser o primeiro aqui a registrar aquele forte abraço -para o grande Tadeu. Acaba de chegar no 42, que eu logo salto na próxima estação. Busquei no livro de poesias completas do João Cabral de Melo Neto uma que pudesse oferecer ao mestre . Eu recomendo as últimas páginas do livro, a partir da 354, com "A Lição de Poesia: "Toda a manhã consumida/como um sol imóvel/diante da folha em branco:/princípio do mundo, lua nova."


Mas é na página seguinte que encontrei uma poesia cujo título é uma dedicatória: "A Carlos Drummond de Andrade". Segue aqui um presente para você e para todos nós, por uma vida sem guarda-chuva (sem salamaleques, sem escusas, sem explicações e justificativas) e em família:

"Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é supresa
como uma flor memso num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeiais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.

Por fim, aos gritos raivosos manifestos, empresto o final de "Poema": "Há vinte anos não digo a palavra/que espero de mim./Ficarei inde finidamente contemplando/ meu retrato eu morto."

Somos protagonistas, não abajur. Quando tomaremos a rédia dos pensamentos sob o chicote das nossas próprias opiniões?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

poesia decorativa

inútil esta linha
porque impessoal

faz superfície
do que é visceral

inútil este traço
trilha marginal

inútil este texto
curva vicinal

vazio fundo
sem propóstio
imperfeito

decorativo